O Supremo dos EUA em 1931 servia de capacho para o governo repressionista do Herbert Hoover--engenheiro que morou na China e desde então fez o possível para ajudar aquele império a exportar leis violentas. Pela enésima vez o Supremo decretou que a emenda da lei seca era a parte importante da constituição. A sentença é o martelo, e o tampão agora tapa a esperança de se revogar essa lei violenta.
Em março de 1931, juízes republicanos tornaram a insistir que a cerveja seria crime, pouco importando se dezenas de milhares seriam roubados, presos e/ou baleados para atingir esse nobre ideal. Os presidiários agora empatavam as populações de três estados da União. O que dizer, então, das esperanças alemãs de manter a codeína e a cocaína desregulamentadas para poderem pagar as reparações de guerra com os lucros da exportação? O recorte abaixo, de quando um centavo americano valia seis e um quarto MILHÕES de marcos de papel, explica como as outras drogas prosperaram quando a cerveja foi proibida.

Na 1ª semana de fevereiro, o Comitê Consultivo do Ópio da Liga das Nações encerrou suas 44 reuniões. Apenas duas delas foram secretas. Até hoje, a Liga não é muito aberta sobre os detalhes pautados. No entanto, as sessões de 1930, amplamente documentadas, detalham todos os planos para piorar uma crise de mercado global existente, com reação em cadeia de pânicos bancários de efeito dominó e colapso de liquidez de sistemas bancários de reserva fracionária. Tudo isso foi graças à legislação existente que proibia cerveja, vinho, bebidas alcoólicas, opiáceos, enteógenos, estimulantes e até complicando os analgésicos hospitalares, aumentando de forma geral os preços de venda em 400%. Realizavam-se planos para voltar a exportar o fanatismo chinês e perturbar as economias da Europa Central a ponto de garantir uma segunda Guerra Mundial. O mesmo processo que tornou a Primeira Guerra Mundial inevitável a partir de 1912, seria implementado em 1931, agora agravado por conflitos jurídicos, concorrentes aproveitadores e planos para sufocar TODA a concorrência da Alemanha e arredores.
Em 01MAR1931, o Chicago Tribune relatava plena guerra civil no Peru, com quatro mortos na primeira batalha. A Alemanha era cliente importante para esse país andino, cujo mercado fora tomado por enormes plantações de coca nas colônias holandesas de Java e Sumatra. Os holandeses substituiram o plantio de entorpecentes viciantes com arbustos de coca a partir da década de 1890--isso como medida de reforma cristã. Nos EUA, depois que o álcool foi proibido na Geórgia, uma empresa de vinho de coca mudou os produtos, adicionando uma pitada de pó a um refrigerante nada alcoólico chamado Coca-Cola. Os proibicionistas que promulgaram a repressão do vinho agora queriam que a lei desse batida nesse refrigerante substituto. A ilha de Formosa, atualmente Taiwan, virou colônia japonêsa com plantações de ambos os tipos de culturas comerciais. Regular a vida alheia no entanto se transformou em uma caça às bruxas por proibicionistas americanos que buscavam novas coisas para reprimir. Cruzadas anteriores para prender peão por cigarros ou beisebol aos domingos não entusiasmaram os eleitores
O governo Hoover pressionou a Liga das Nações para copiarem como a Haia as proibições americanas de coca, resultando a desordem no Peru. O cartel de ópio indiano da Grã-Bretanha e a Receita Federal egípcia queriam que a cannabis fosse proibida por ser barata e não gerar dependência. Já a cocaína, cara e estrangeira, causaria, temiam, um desequilíbrio comercial tal como arruinou a China durante as Guerras do Ópio. O sal os britânicos apreciavam como habituante o suficiente para fazer dele um monopólio de receita governamental na Índia e em muitas colônias africanas. Seus agentes da receita prendiam com afã Gandhi e comerciantes árabes por coletar e transportar sal natural!
As manchetes de março berravam denúncias dos oficiais do "Banco dos Estados Unidos", chefiada por russos. A Rússia Soviética não era vista com bons lhos por excesso de liberalidade com bebida e drogas. O filme de 1929 de Dziga Vertov, Um Homem com Uma Câmera, mostrava garçonetes soviéticas destampando espumantes garrafas de cerveja, um passageiro cheirando um enorme papelote em plena estação de trem e flashes de bandejas de que só poderiam ser entorpecentes (isso na versão original). Americanos com preparo técnico, desiludidos com o zelo religioso travestido de capitalismo, entraram numa onda de emigração para a União Soviética. Pode uma coisa dessas?!
Russos nova-iorquinos dominavam o "Banco dos Estados Unidos" que Milton Friedman imaginou ter falido por causa da discriminação antijudaica. O BUS primava por atender a grandes réus traficantes, apenados, juízes comprados e testemunhas-presunto como depositantes e tomadores de empréstimos. Sua quebra ocorreu quando agentes federais vigiavam meia tonelada de morfina no cais nas proximidades do transatlântico francês Alesia. Friedman e Schwartz deviam ter considerado o confisco da carga, e não apenas as armações do ku-klux klã. De fato, um artigo do NY Times de 7 de janeiro comparou a Lei Seca e a intolerância soviética como praticamente a mesma coisa. Uma série de março no jornal de Berkeley descreveu sombriamente a ditadura bolchevique. Enquanto isso, agentes do tesouro prendiam cidadãos russos por falsificação, no meio de uma onda de falências bancárias. A cobertura diária de notícias popularizou o julgamento por fraude bancária do BUS e as acusações fiscais contra membros do grupo Capone. As preocupações alemãs aumentavam ao passo que esses artigos apareciam na mesma página.
Para a alegria do comissário antidroga Harry Anslinger, o presidente Hoover, em 02 de março enviou ao Congresso uma Estimativa Complementar de alocação de verba de USD 35.000 em ouro para financiar a participação dos EUA na Conferência da Liga das Nações sobre Limitação da Fabricação de Drogas e Entorpecentes. O ex-presidente do Reichsbank, Schacht, exigiu no dia seguinte a revisão de todas as dívidas de guerra e a restituição das antigas colônias da Alemanha na África.(link) Os jornais de Chicago de 7 e 8 de março relataram que os europeus deviam 29 bilhões de dólares aos EUA--juntando-se isso ao prejuízo de outros 4 bilhões por tentar impor as leis repressionistas. A Rússia, irritada, ameaçou boicotar todos os produtos made in USA. Os enviados de Hoover à convenção antidroga de Genebra, marcada para 27 de maio de 1931, seriam Harry Anslinger e John Caldwell, do Federal Bureau of Narcotics, esse um eugenista encarregado das “fazendas” reconcentrando apenados por contravenções com entorpecentes, e mais um burocrata antidrogas.
Os jornais de repente jorraram pela primeira vez tendenciosa propaganda de "conscientização" anti-cannabis. Henry Ford, Thomas Edison e Harvey Firestone garantiram aos leitores que "a lei seca é uma coisa boa" e que "a suposta depressão é o resultado da desonestidade". Os socialistas nacionais e internacionais alemães começaram a balear os companheros enquanto apenados ateavam fogo a uma prisão lotada de Illinois. Um pequeno artigo na mesma edição revelou novas pesquisas sobre o gás mostarda.(link)
Como clarim de alvorada para americanos e alemães, o Dr. Nicholas Murray Butler da Universidade de Columbia disse na Califórnia que as leis secas geraram uma indústria de USD 4 bilhões livre de impostos e sugeriu a revogação. Muitos americanos refletiram que foram evangelistas não tributados que deram início a esse proibicionismo. Os alemães por sua vez recordaram de o Supremo americano ter decretado a cobrança de IR nos lucros ilegais. Isso, em maio de 1927, esfriou de sopetão a maioria dos mercados de valores mobiliários europeus.(link) Com o recente tratado de extradição por drogas agora em vigor, os magnatas farmacêuticos alemães nos EUA não escapariam da cobrança das leis proibicionistas mesmo retornando à Europa.
Já um terço de todos os suicídas na Europa eram alemães. Logo, para aumentar a pressão, um filme bilíngue de propaganda em alemão e inglês, "The Seas Beneath" foi lançado a título de nostalgia da Primeira Guerra Mundial. Nele, uma escuna Q-boat, munida de canhão disfarçado, reboca um submarino americano para atrair e emboscar um submarino alemão.(link) Mais de 95% de todo o álcool consumido na América era, em 1929, feito de glicose de açúcar de milho nacional. Desde 1924 os jornalistas já sabiam que estimulantes e entorpecentes eram entregues aos navios da Rum Row para complementar aqueles 5% restantes de fatia de mercado de bebidas alcoólicas. Afinal, um submarino alemão trouxe drogas para os EUA neutros em 1916, furando bloqueios de guerra. Havia centenas de submarinos europeus em funcionamento e capazes de entregar drogas adicionais aos navios da Rum Row, mesmo estando o rio Hudson agora fora dos limites por causa daquelas fotos do mesmo ano.(link) Título no jornal: ALIENS AND DRUGS COME FROM RUM ROW.
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Leitura relevante: CONVENÇÃO PARA LIMITAR A FABRICAÇÃO E REGULAR A DISTRIBUIÇÃO DE DROGAS NARCÓTICAS, DE 13 DE JULHO DE 1931. Genebra, outubro de 1937. Comprei de um vendedor na Holanda faz uns 15 anos. Consta um detalhamento, parágrafo por parágrafo, dessa internacionalização da Lei de Harrison que os EUA, a China e a Liga das Nações suaram para impor à Alemanha e ao Japão. Andrew Jackson teria brincado: “Bem, conseguiram lá a sua convenção; vejamos agora como irão cobrá-la”. A contracapa identifica como revendedora no Brasil a "Livraria Allemã" Frederico Will, rua da Alfândega 69, no Rio de Janeiro.
INTERNATIONAL NARCOTICS CONTROL, de L.E.S. Eisenlohr, é uma análise “informativa” da história e dos antecedentes da era Reagan no intúito de resgatar a legislação de Comstock e represionista após a ratificação da 21ª emenda e chegada do voto libertário. Ambos esses livros ignoram completamente a possibilidade de que as leis que confiscam bancos, armazéns, navios, imóveis, casas e outros ativos possam afetar de forma alguma os mercados de valores mobiliários, o sistema bancário de reservas fracionárias e a estabilidade monetária--sem falar em causar guerras mundiais!
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Quer saber a causa do Crash de 1929 e da Depressão da década de 1930? Leia.
Para melhorar o seu inglês, nada como a minha polêmica tradução de O Presidente Negro (O Choque das Raças) de Monteiro Lobato: America's Black President 2228. Na Amazon (link)
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