Capítulo
45
O
afundamento da I'm Alone
O interceptor Walcott da guarda costeira americana
perseguia uma escuna de dois mastros e bandeira canadense – a I'm Alone
– no golfo do México a mais de uma hora de cruzeiro de Louisiana. O comandante, John
Randall, condecorado com a Croix de Guerre françesa por uma escaramuça
com um submarino alemão, não ia prestar contas à guarda costeira americana em
alto mar. Dando reforço ao Walcott veio
o Dexter, que – em 22 de março – atacou e afundou a embarcação, matando um
tripulante francês no centro do Golfo do México após uma perseguição de 24
horas. O Canadá, embora aderente a um
tratado de bebida com os EUA, não via com bons olhos o bombardeio de
embarcações de bandeira britânica, sobretudo no alto mar. Jamais a guarda costeira se atrevera a por a
pique um navio estrangeiro – e de bandeira dos aliados comandada por herói de
guerra, era impensável. O
primeiro-ministro canadense, William Mackenzie King, fora abordado acerca de
negociações do tratado de contrabando no começo de janeiro, mas King, ansioso
sobre a possível tendência das tarifas sob o novo governo Hoover, decidiu
guardar na manga eventuais negociações como moeda de troca para influenciar nas
sobretaxas americanas.[1]
Três dias após o afundamento, a dona-de-casa Lilian De
King, de Aurora, Illinois, foi morta a tiros por um xerife proibicionista
enquanto tentava chamar o seu advogado pelo telefone. Um informante fora pago $5 para acusar o sr.
De King de tê-lo vendido meio-litro de bebida por $2 fazia nove dias. Ultrajado, o filho de 12 anos do casal baleou
o invasor na perna, mas serenos pastores batistas e metodistas pronunciaram a
matança da mãe do menino um ato justificado de execução da lei. A Associação Contra a Emenda da Proibição
(AAPA) publicou em 1º de março Escândalos da Execução da Lei Seca –
aumentando o senso de ultrage – e a revista Time publicou o texto da Lei
Jones na edição de 25 de março.[2]
Longe dos jornais, o caso da Illinois Alcohol continuava
tomando vulto com mais 15 intimações despachadas em 23 de março e 10 adicionais
no dia 25, elevando o total a 76 desde 20 de março. Também em 25 de março 31 réus – incluindo
pessoas jurídicas – compareceram ao tribunal para se declararem não culpados de
incorrerem na lei seca de Volstead. O
julgamento teve início em Buffalo, Nova York, para todos os réus exceto os oito
cujas denúncias foram julgadas improcedentes.
Foram liberadas as holdings Salnod e Midwest, os Lasdons, Saks,
Briem, Lewis e Uldren, mas os outros 29 – incluindo Edward J. Du Pont e o cervejeiro Fred Koch – enfrentariam um júri de seus pares num tribunal
federal. Os jornais chegaram a mencionar
o julgamento de 21 de março em Detroit dos inspetores da alfândega que
controlavam o comércio de bebidas nas cidades à jusante. Saltava aos olhos que o crime organizado
vinha sendo dominado pelos próprios agentes que os proibicionistas escolheram
para cobrar as leis – leis que organizaram o crime.[3]
Numa palestra sobre o crime para o Clube Americano em
Paris, o ex-comissário Enright, da polícia de Nova York, chamou atenção a novos
aspectos do caso do finado chefão de quadrilha Arnold Rothstein. O assassinato de Thomas Walsh havia renovado
o interese no caso, acirrado pela sina de Jack Waller, assistente do chefão,
que saltou à sua morte de um vapor da linha Clyde perto da Flórida –
supostamente fugindo de assassinos alugados.[4] Enright alegou que a investigação da morte
fora mal-administrada, e que o teor dos papéis do Rothstein foi omitido,
sugerindo que uma diligência verdadeira teria “abalado os alicerces
societais e políticos – enfim, todos, da cidade de Nova York.”[5] Isso remetia muito
às “provas chocantes, envolvendo figuras públicas importantes na politicagem de
Nova York que o promotor federal John M. Blake prometeu mas não entregou em
janeiro de 1929. Parecia até que haveria
elementos de verdade nos boatos de corrupção entre a cúpula da autoridade – a
despeito da firme censura de menção do caso da Illinois Alcohol na mídia.
Naquele dia, o Presidente Hoover
teve outra reunião com o comissário James Doran e seu suplente Levi G. Nutt –
com certeza para falar da repressão aos entorpecentes.[6] Os juros dos
corretores imediatamente pularam dos 9% de 22 de março – quando pipocaram as
notícias – para 14% na segunda e 20% a.a. dia 24 de março.[7] Hoover e Nutt bem sabiam que o Artigo 27 da
Convenção internacional de 1925 exigia do Comitê Central do Ópio “certificar-se
de que as estimativas, estatísticas, informações e explicações por ela
recebidas... não sejam divulgadas de forma a facilitar as operações de
especuladores...” Mas com os empréstimos
dos corretores a juros inauditos, o presidente decerto teria questionado a
possibilidade de alguém ter vazado informações sobre o chocante volume de
drogas nos relatórios das fontes da Liga das Nações. Em cima disso havia a situação da Union Bank
and Trust Company da Philadelphia, em que o grande júri denunciava oficiais do
banco por faturar em cima da capitalização dos destiladores e chefões de
quadrilhas![8] Mas para o cidadão comum que folheava seu
jornal matutino, a maior notícia parecia ser o bicho de sete cabeças que faziam
do Al Capone.
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Traduzido de "Prohibition and The Crash" de J Henry Phillips, tradutoramericano.com.br
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