O Tsar da Rússia, Autocrata, Ortodoxo, Imperialista--casado com a Tsarina supersticiosa e manipulável--ficou absolutamente surpreso quando as ruas encheram de revolucionários e comunistas. Ninguém na sua corte esperava, nem mesmo após o motim do encouraçado Potemkin, que esses farroupilhas conseguissem aliciar os soldados para o seu lado em 1917. Aliás, nas crises financeiras de 1920-23 e 1929-33, adesão ao PC americano primeiro dobrou, e na depressão deixada pelos republicanos o governo do FDR ficou submerso num aumento comunista de 700%! Os republicanos se fazem de surpresos e perplexos sobre as causas.
Partido comunista nas crises econômicas das décadas 1920 e 1930 |
E sim, havia droga nisso. Toda a região desde o sul da França, passando pela Áustria-Hungria, Países-baixos, Suíça e Alemanha refinava ópio proveniente dos Países Baixos, Belgica, França, Alemanha, Suíça, Montenegro, Bosnia, Servia, Bulgária, Turquia, Ucrânia, Laos, Cambodia, Cochin-China, Afeganistão, Índia, e Burma. Até no interior da China e Manchúria produzia-se ópio. Era refinado em morfina e heroína para abastecer o setor médico da Europa, sendo o superávit exportado para países mais primitivos.(link)
O maior sumidouro dessa droga, o império chinês da dinastia Quing, tentou proibir esse dumping em 1905. Finalmente os revolucionários deram um jeito de proibir a entrada da droga, das seringas e das agulhas no meio da revolução de 1911.(link) Imediatamente começaram as guerras nos balcãs, com choques entre italianos, turcos, armênios, sérvios, búlgaros, montenegrins, gregos--enfim, briga generalizada entre os produtores e refinadores num mercado a contrair.(link)
Não se fala nisso, e na época nem se falava na crise econômica de 1903. Tanto era assim que a coisa levou apelido de Pânico Silencioso. Após a tentativa dos caratecas de expulsar da China os traficantes estrangeiros em 1901, surgiu ali um boicote generalizado das exportações americanas que provocou a crise do "Silent Panic". Xaropes para acalmar bebês, como o da Mrs Winslow, continham morfina não mencionada no rótulo.
Várias revistas como a Colliers, The Ladies' Home Journal e afins veicularam artigos chocantes e exagerados sobre o envenenamento do lar americano. Aprovou-se uma lei da pureza dos alimentos e drogas em 1906 que só tomaria efeito em 1907. Tão logo vigorou essa lei, foi aproveitada por fanáticos proibicionistas e fabricantes dispostos a bloquear as importações concorrentes. A economia ruiu no espalhafatoso Pânico de 1907.
Nessa mesma época o governo Americano trabalhava num projeto para proibir a exportação de entorpecentes de dormideira--e até de folhas de plantas relativamente inofensivas--na forma de uma Convenção da Haia. As adesões foram acumulando até que em 1914 havia quase o número necessário para fiscalizar a produção e exportação europeia. Foi nessa exata conjuntura que o assassinato corriqueiro e normal de um figurão penachudo por jovem assassino anarco-comunista ou nacionalista foi aproveitado para mergulhar em guerra essa mania de coletar assinaturas na Convenção Anti-Ópio da Haia.
Nessa guerra o minerador Herbert Hoover fez o papel de Tzar dos Alimentos, tocando uma autocracia que importava e distribuía víveres aos povos da Bélgica, França, Inglaterra e outros países afetados pela Grande Guerra resultante da sua própria concorrência no mercado da exportação da heroína. Foi Hoover que nomeou Harry Anslinger como primeiro Tsar das drogas, e o atual (vc sabe o nome dele? link) manda militares gringos reforçarem na América do Sul o repressionismo fanático que destrói economias. Duvida?
Assista o vídeo que promete invadir o hemisfério (link) |
Para melhorar o seu inglês, nada como a minha polêmica tradução de Monteiro Lobato: America's Black President 2228. Na Amazon (link)
Saiba mais sobre as crises econômicas dos EUA--leia:
Compre este livro na Amazon |
Na Amazon: A Lei Seca e o Crash. Todo brasileiro entende rapidinho o mecanismo desta crise financeira de 1929. Com isso dá para entender as de 1893, 1907, 1987, 2008 e os Flash Crashes de 2010 e 2015.
Nenhum comentário:
Postar um comentário