quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

O discurso da posse

O novo presidente republicano fez um discurso de posse contendo o seguinte: 

The forgotten men and women of our country will be forgotten no longer. 
A revista Valor traduziu a expressão como: 
Os homens e mulheres esquecidos de nosso país vão deixar de ser esquecidos.
A tradução mais parece uma cura do mal de Alzheimer. O sentido verdadeiro de forgotten na formulação original do Professor Sumner é despercebido, ignorado, marginalizado.  O próprio Sumner lamentou não ter achado uma expressão menos ambígua. O Wall Street Journal, mais a par das sutilezas linguísticas em jogo, perguntou "Qual homem despercebido?" Boa pergunta. Temos o do Trump, 2016, aquele do Franklin Roosevelt, 1932, o original do William Graham Sumner de 1876 e ainda o da Ayn Rand, autora de A Revolta de Atlas, de 1957.




Na formulação do Sumner, o Homem Despercebido é aquele que é assaltado com impostos para pagar as contas alheias: 
O padrão e a fórmula da maioria dos esquemas filantrópicos ou humanitários é assim: A e B colaboram com suas idéias para determinar o que é que C será obrigado a fazer por D. O vício radical de todos esses esquemas - do ponto de vista sociológico - é que C não têm voz nem vez na questão, sendo que sua postura, seu caráter e seus interesses - bem como os efeitos que a artimanha fatalmente transmitirá à sociedade através dos interesses do C, passam completamente despercebidos. É este C que eu chamo de o Homem Despercebido.--Sumner
Na formulação do Roosevelt, esse forgotten man é o escravo que constrói a pirâmide--ou o miserável esmagado na sua base--enfim, o escravo na política do partido escravagista, mas quiçá merecedor de algumas migalhas a mais: 
Nesta conjuntura infeliz devemos elaborar planos que dependem dos despercebidos, das unidades desorganizadas porém indispensáveis do poder econômico, pois os planos como aqueles feitos em 1917, construídos do alicerce para cima e não do topo para baixo, que novamente depositou a sua fé no homem despercebido na base da pirâmide econômica.--FDR
O discurso de Roosevelt tentava apagar o sentido original do Homem Despercebido, substituído por ele o veterano forçosamente alistado e ora desamparado da primeira Grande Guerra e os demais milhões que perderam seus empregos na Guerra Contra o Demônico Rum. Começando em 1924, o governo republicano "tentava" esmagar o monopólio da glucose que financiou a Emenda Constitucional da lei seca. As destilarias e cervejarias faliram, mas o povo (e a malandragem organizada) comprava malte da Budweiserglucose de milho da Corn Products Refining e fermento Fleischmann para fazer bebida caseira. Este setor contava com uma receita de 5 bilhões de dólares anuais, um bilhão a mais do que a renda total do governo dos EUA. 



O governo republicano do Herbert Hoover em 1929 tentou fazer colar a lei seca com confiscos pelo Fisco--cobrando imposto de renda e impostos de circulação de mercadoria. As empresas fabricantes de açúcar de milho e de levedo foram indiciadas por formação de quadrilha. Seus depósitos e aplicações--e os dos seus clientes e colaboradores--sumiram dos bancos, o crédito encolheu e a economia entrou em colapso total. Por causa desse desmando, os republicanos perderam nas eleições de 1932, 1936, 1940, 1944 e 1948.

E resta ainda a versão da Ayn Rand, que volta à versão original de Sumner, onde C é o Atlas que sustenta a todos. Só que Atlas parou de se sacrificar no altar do altruísmo. Como a cariátide, cansou, largou o fardo, e passou a trilhar o seu próprio caminho. Este é o homem despercebido representado pelo partido libertario, e não o fanático nacionalsocialista do partido republicano. 

O capítulo da Revolta de Atlas que melhor descreve o partido republicano foi titulado: A Aristocracia do Pistolão




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